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Oportunidades e desafios numa crise muito desigual

Em entrevista à Associação Surf Social Wave, Pedro Brinca falou-nos sobre os desafios e oportunidades da crise pandémica, a nivel económico e social, na sequência da sua participação do Programa Cascais Surf para a Empregabilidade, onde disponibilizou o seu tempo para ensinar os participantes sobre Macroeconomia. Esta é a 4ª vez que participa no Programa Cascais Surf para a Empregabilidade.

Pedro Brinca é professor de Macroeconomia na Nova SBE desde 2015, tem publicado em revistas científicas como o Journal of Monetary Economics e o Journal of Economic Dynamics and Control, tendo também contribuído para a segunda edição do Handbook of Macroeconomics. Já esteve como aluno visitante na Universidade do Minnesota, interno de investigação no Banco Central Europeu, Professor Auxiliar na Universidade de Estocolmo e Investigador no Robert Schuman Center for Advanced Studies, do Instituto Universitário Europeu.



ASSW: Quais são os desafios que os empreendedores vão ter no futuro próximo resultado da pandemia?


P.B. (Pedro Brinca): Em todas as grandes crises há sempre muitas oportunidades.


As crises são períodos muito disruptivos em que a maior parte das empresas de facto têm problemas e vendem menos e têm margens mais baixas.

Mas há sempre algumas empresas que conseguem ver nas crises uma oportunidade e conseguem crescer e aumentar as margens.


Nesse sentido, as crises são períodos, por exemplo, onde a lealdade dos consumidores é posta à prova, porque as circunstâncias se alteram e é precisamente nessa altura que surgem novos modelos de negócio, novos produtos, que aproveitam toda esta disrupção criada pelas recessões.


Para o Empreendedor o desafio é identificar que novos produtos são estes que as pessoas vão estar à procura. Nesta circunstância, uma crise tão típica em termos de mudança de consumo e mudança de necessidades, o que não faltam são oportunidades para dar esses novos produtos.


Nós temos visto muitas pessoas, muitas empresas, a adaptarem-se e a oferecerem esses novos produtos. Mas a identificação dessas oportunidades é de facto o principal desafio e o mais importante, porque são tantas. É de aproveitar!

No final da sessão online sobre Macro Economia com o grupo da 8º Edição do Programa

Cascais Surf para a Empregabilidade o tema foi o panorama económico pós covid.


ASSW: E como é que será o mundo pós-covid?


P.B.: O mundo pós-covid-19 traz duas coisas sobre as quais é importante refletir e que penso que estamos todos bem cientes.

Uma tem a ver com o online tornar-se o novo normal. Mesmo as pessoas que tinham uma natural resistência à adoção de plataformas digitais para efetuar compras, gerir contas no banco, etc, viram-se obrigadas a fazê-lo. Esse capital de conhecimento, essa capacidade de interagir online, de comércio online, é algo que terá vindo para ficar de certeza.

Mesmo que o vírus desapareça, essa aprendizagem já não desaparece.


Outra coisa que a covid-19 veio trazer foi alguma regressão na evolução que tem havido do ponto de vista da coesão social, porque é uma crise muito desigual.


É uma crise que afeta, por exemplo, as mulheres de uma forma muito mais acentuada do que os homens, quer porque as mulheres estão mais representadas em profissões que têm mais risco de contágio, como no caso da gerontologia, prestação de cuidados de saúde, que são tudo atividades e ocupações que têm um contacto humano mais próximo; quer porque Portugal ainda é uma sociedade relativamente pouco igualitária no que diz respeito às relações pessoais e gestão da casa e dos filhos, obviamente que estando os filhos em casa, recai sobre elas esse peso de forma desproporcional; quer sobre as camadas mais pobres da população, que são aquelas que tipicamente têm menos ocupações que podem desempenhar em teletrabalho e, dessa forma, têm uma quebra de rendimento mais acentuada. Até mesmo do ponto de vista epidemiológico porque a pandemia, a covid-19, é uma doença que é mais grave em pessoas que já têm comorbilidades, como a diabetes, tensão alta, obesidade, tudo doenças que são mais prevalentes nos segmentos mais desfavorecidos da população.


Nesse sentido, a covid-19, para além de trazer as oportunidades do online também traz um grande desafio que tem a ver com a coesão social e com a proteção dos mais desfavorecidos com desigualdades que se vieram agudizar com a pandemia.


Linkedin de Pedro Brinca: https://www.linkedin.com/in/pedrobrinca/

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